Tag: Energia Renovável

  • ESG: os meios são tão importantes quanto o fim

    ESG: os meios são tão importantes quanto o fim

    Num passado não tão distante, um extenso relatório financeiro era suficiente para demostrar a saúde financeira de uma empresa e sua capacidade para continuar crescendo. Os investidores pouco sabiam sobre os meios adotados pela empresa, mas, se os números fossem bons, era quase certo de que o investimento também seria. Os índices financeiros apoiavam quase que exclusivamente a tomada de decisão, não importasse como o lucro fosse perseguido.

    Nos últimos anos, entretanto, o perfil de investimento tem mudado e o investimento ESG, sigla para Environmental, Social, and Governance, é uma realidade. No Brasil, a tradução literal criou a sigla ASG (Ambiental, Social e Governança) para identificar a mesma tríade. O fato é que os investidores estão aplicando cada vez mais esses fatores não financeiros como parte de seu processo de análise para identificar riscos materiais e oportunidades de crescimento (CFA INSTITUTE, 2021). Os critérios ambientais consideram a relação de uma empresa com o meio ambiente, desde o seu consumo de energia e disposição de resíduos até a emissão de gases de efeito estufa. Os critérios sociais incluem todos os aspectos humanos dentro e fora da empresa, desde o relacionamento com colaboradores até o impacto social nas comunidades com quem se relacionam. O critério de governança engloba os procedimentos, protocolos e controles internos e define como a empresa se comporta para cumprir leis e dar transparência às suas práticas.

    Embora não exista um método padronizado para quantificar o score ESG de uma empresa, as informações e dados que a empresa publica para demonstrar, por exemplo, seu esforço para melhorar sua eficiência energética, ou buscar ativamente o desenvolvimento da comunidade ao seu redor por meio de ações diversas e inclusivas, ou ainda quando estabelece processos claros e se posiciona firmemente contra práticas de corrupção e lobby, dizem muito sobre a sua postura para perseguir o seu propósito empresarial, criar valor e resultados. Se antes essas iniciativas eram consideradas subjetivas e secundárias, agora são efeitos de valores empresariais que podem ressonar com os dos investidores. Do outro lado, clientes e consumidores estão mais conscientes da mudança climática e se importam com produtos e serviços que preservam a natureza. Muitos estão dispostos a pagar mais por um produto ou serviço ‘verde’. Essa mudança de hábito realimenta a ideia da sustentabilidade, por isso, algumas empresas não querem ser vistas por clientes e investidores como uma ‘caixa preta’ e preferem publicar suas metas sustentáveis, geralmente de longo prazo, como uma estratégia empresarial duradoura.

    Em duas pesquisas realizadas pela McKinsey sobre ESG, uma em 2009 e outra em 2019, a porcentagem de executivos e profissionais de investimento pesquisados, que acreditam que programas ESG criam valor para os acionistas, aumentou. Agora, os que acreditam são a maioria (57%); a incerteza sobre a criação de valor diminuiu de 25% para 14%. A pesquisa ainda aponta que uma das formas que os programas ESG melhoram a performance financeira das empresas é manter uma boa reputação empresarial e atrair e reter talentos. Atingir expectativas da sociedade com relação à postura empresarial também foi um dos itens que mais cresceu entre as duas pesquisas. A Conformidade (compliance) com regulamentações e transparência figuram como as atividades mais importantes relacionadas às práticas ESG.

    Agora, as atenções estão voltadas para o ESG e os investimentos refletem isso:

    “Pensar e atuar em ESG de forma proativa tem se tornado ainda mais urgente. (…) Imbuído desse espírito, o investimento em ESG teve um crescimento meteórico. O valor global destinado a sustentabilidade hoje chega a $ 30 trilhões [de dólares] (68% maior desde 2014 e 10 vezes maior desde 2004). A aceleração tem sido motivada pelo aumento da atenção social, governamental e do consumidor para o maior impacto das empresas, assim como investidores e executivos que perceberam que uma proposta de ESG mais sólida pode ajudar a garantir o sucesso da empresa no longo prazo.” (McKinsey & Company, 2021)

    No início dos anos 2000 a temática sustentável não atraía investimentos significativos para as empresas, mas atualmente o cenário global é diferente. A Bloomberg estima que os ativos ESG sob gestão podem superar um terço do total global projetado até 2025. No Brasil, a performance de empresas que zelam pelo ESG pode ser comparada com o Ibovespa, o principal índice das ações negociadas na bolsa. O ISE B3, Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, é um índice que mede o retorno médio de uma carteira teórica de ativos de empresas listadas com as melhores práticas em sustentabilidade (B3, 2021). O ISE B3 foi criado em 2005 e, desde então (até 25 de novembro de 2020), valorizou 294,73%, enquanto o Ibovespa teve alta de 245,06%. A volatilidade do ISE B3 foi de 25,62%, contra 28,10% do Ibovespa (Lewgoy, 2020). A diferença de performance do ISE B3 entre 2012 e 2017 em relação ao Ibovespa é mais nítida. Neste período o ISE B3 performou sempre acima do Ibovespa.

    Não ao caso, recentemente, o Ministério do Desenvolvimento Regional lançou o “Estratégia Investimento Verde” que visa contratar projetos que priorizam critérios ambientais, sociais e de governança em obras públicas de infraestrutura. O Governo Federal assinou Acordos de Cooperação Técnica com oito associações do setor privado, entre elas o Sebrae.

    Investimentos ESG no Brasil devem crescer daqui para frente. O relatório “Oportunidades de Investimento em Infraestrutura Sustentável no Brasil”, publicado pelo Brazil Green Finance Programme em março de 2021, projeta a necessidade de investimento em infraestrutura sustentável no Brasil entre 3,5 trilhões e 3,6 trilhões de reais entre 2020 e 2040. Projetos de infraestrutura sustentáveis são todos aqueles que em seu ciclo de vida garantem sustentabilidade econômica e financeira, ambiental, social e institucional. O destaque, porém, está em dois setores: infraestrutura de energia de baixo carbono e telecomunicações.

    A infraestrutura de energia de baixo carbono, que compreende a geração centralizada com fontes renováveis, geração distribuída (sobretudo com solar fotovoltaica), infraestrutura de transmissão e distribuição de energia elétrica e usinas de produção de biocombustíveis, representa 27% do total de investimentos projetados para o período, ou seja, 968 bilhões de reais, com capacidade para criar 1,2 milhão de vagas de emprego neste setor. Estima-se que, somente a geração distribuída fotovoltaica, demandará 106 bilhões de reais até 2040.

    O ESG, portanto, é uma lente de aumento sobre as operações e o comportamento das empresas. O perfil dos investimentos tem mudado e os valores e as boas práticas corporativas fazem toda a diferença para a tomada de decisão dos investidores. Os critérios ESG definitivamente agregam valor e clientes e consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços de empresas que se esforçam para cuidar da natureza, que são mais inclusivas e transparentes. Investidores, por sua vez, tentarão capturar os resultados financeiros destas mudanças. O lucro continua sendo o objetivo fundamental das empresas e dos acionistas, mas com o ESG, os meios são tão importantes quanto o fim.

    Referências

    B3. Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3). Disponível em https://www.b3.com.br/. Acesso em 7 de outubro de 2021.

    Bloomberg. ESG assets may hit $53 trillion by 2025, a third of global AUM. Bloomberg Intelligence. Publicado em 23 de fevereiro 2021. Disponível em https://www.bloomberg.com/. Acesso em 8 de outubro de 2021.

    Brazil Green Finance Programme. Oportunidades de Investimento em Infraestrutura Sustentável no Brasil. Publicado em 16 de março de 2021. Disponível em https://ukbrazilgreenfinanceprogramme.com/. Acesso em 8 de outubro de 2021.

    CFA INSTITUTE. ESG Investing and Analysis. Disponível em https://www.cfainstitute.org/. Acesso em 4 de outubro de 2021.

    Governo do Brasil. Projetos vão priorizar critérios ambientais, sociais e de governança. Publicado em 1º de setembro de 2021. Disponível em https://www.gov.br/. Acesso em 4 de outubro de 2021.

    Júlia Lewgoy. Bolsa divulga empresas do índice de sustentabilidade de 2021. Veja a lista. Valor Investe. Publicado em 1° de dezembro de 2020. Disponível em https://valorinveste.globo.com/. Acesso em 10 de outubro de 2021.

    McKinsey & Company. The ESG premium: new perspectives on value and performance. McKinsey Sustainability. Publicado em 12 de fevereiro de 2020. Disponível em https://www.mckinsey.com/. Acesso em 7 de outubro de 2021.

    McKinsey & Company. Práticas ESG podem criar valor de cinco formas. Publicado em 30 de junho de 2021. Disponível em https://www.mckinsey.com/. Acesso em 8 de outubro de 2021.

    Foto de Alex Middleton em Unsplash.

  • Geração Fotovoltaica: além da energia

    Geração Fotovoltaica: além da energia

    A primeira conferência mundial sobre meio ambiente foi promovida pelas Nações Unidas em junho de 1972, em Estocolmo, Suécia. A conferência marcou o início de diálogo entre países sobre problemas ambientais e a relação entre o crescimento econômico, a poluição do ar, da água e dos oceanos e o bem-estar da população mundial.

    Vinte anos depois, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foi realizada no Rio de Janeiro e ficou conhecida internacionalmente como Cúpula da Terra (Earth Summit) ou ECO-92, aqui no Brasil. O objetivo era criar um plano de ação internacional em questões ambientais e de desenvolvimento, o que resultou na chamada Agenda 21, um programa para alcançar o desenvolvimento sustentável global no século 21. A Conferência também destacou que aspectos sociais, econômicos e ambientais são interdependentes e evoluem juntos. A melhoria em um aspecto requer ações em outros para que todos sejam sustentáveis ao longo do tempo.

    A partir de 1995 as Nações Unidas passaram a organizar conferências sobre a mudança climática. As Conferências das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima ocorrem anualmente e são denominadas de COP (Conference of the Parties). As mais memoráveis foram a COP 3, ocorrida em 1997, em Quioto, Japão e a COP 21, ocorrida em Paris, França. Destas duas Conferências resultaram o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris, respectivamente. O primeiro determinou a redução mandatória da emissão de gases de efeito estufa para alguns países cujo efeito mais direto é o aquecimento global; o segundo determinou metas de redução da emissão de gases de efeito estufa para que o aquecimento global fique bem abaixo de 2 °C, de preferência a 1,5 °C, em comparação com os níveis pré-industriais (UNFCCC, 2021).

    Desde então, temas como a mudança climática e sustentabilidade são recorrentes nas agendas políticas e econômicas porque os efeitos da mudança climática são danosos e podem ser irreversíveis. Os efeitos sobre o meio ambiente incluem o agravamento de secas ou alagamentos e consequente desequilíbrio da biodiversidade. Para os humanos as consequências tendem para a escassez de água e alimentos.

    O primeiro passo para mitigar os efeitos da mudança climática é reduzir a emissão de gases de efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). O elemento comum nestes dois gases é o carbono. Por isso, governos e empresas têm se preocupado com as consequências de suas atividades para as futuras gerações e buscam formas de descarbonizar suas atividades. Isso requer o consumo de energia produzida com menos ou nenhuma queima de combustíveis fósseis (carvão, derivados do petróleo e gás natural); em outras palavras é preciso substituir o consumo de energia fóssil por energia limpa, produzida a partir de fontes renováveis.

    Os gases de efeito estufa são emitidos principalmente pela queima de combustíveis fósseis em vários setores e atividades humanas. O setor energético, que engloba a produção de eletricidade e calor e o setor de transporte como um todo, é responsável por 73,2% da emissão de gases de efeito estufa em nível mundial. Somente a eletricidade consumida em edificações e pela indústria em geral responde por 41,7% do total de emissões. As emissões pelo transporte rodoviário (veículos leves e pesados) respondem por 11,9% do total na proporção de 60/40 para o deslocamento de passageiros e transporte de cargas, respectivamente (RITCHIE; ROSER, 2020).

    O uso de recursos renováveis como solar, eólica, hídrica e biomassa ajuda a descarbonizar a geração elétrica. As duas últimas, entretanto, dependem de regimes hidrológicos ou diretamente da água, concorrendo com a agricultura e o consumo humano. No transporte, os biocombustíveis (etanol e biodiesel) já são um passo importante para a redução de gases de efeito estufa do setor.

    Os veículos elétricos e híbridos são outra opção e podem ajudar a reduzir drasticamente o uso de combustíveis de origem fóssil como a gasolina e o diesel. A eletricidade para a recarga das baterias, contudo, precisa vir de fontes limpas e estar amplamente disponível geograficamente para terem efeito sobre a redução das emissões. Aliás, com o declínio do preço das baterias, a eletrificação do transporte de passageiros pode chegar a 70% até 2050 com a eletricidade abastecendo 43% do consumo total de energia do setor de transportes (IRENA, 2019).

    Por esta razão, reduzir emissões da geração elétrica e do transporte deve ser o objetivo central para mitigar os efeitos da mudança climática. A combinação da geração distribuída fotovoltaica com a eletrificação do transporte tem apelo sustentável com redução das emissões aliado à potencial redução de custos operacionais, além do fato da geração fotovoltaica estar amplamente disponível. A geração distribuída fotovoltaica e a eletrificação do transporte, juntos, podem acelerar muito o desenvolvimento sustentável com baixo carbono e evoluir simultaneamente os aspectos social, econômico e ambiental em detrimento de apenas um deles.

    Referências

    IEA (2019). World Energy Outlook 2019. Acesso em 12 de junho de 2020. Disponível em https://www.iea.org/.

    UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON CLIMATE CHANGE (UNFCCC). The Paris Agreement. Acesso em 13 de setembro de 2021. Disponível em https://unfccc.int/process-and-meetings/.

    UNITED NATIONS. United Nations Conference on the Environment, 5-16 June 1972, Stockholm. Acesso em 16 de julho de 2021. Disponível em https://www.un.org/.

    UNITED NATIONS. United Nations Conference on Environment and Development, Rio de Janeiro, Brazil, 3-14 June 1992. Acesso em 16 de julho de 2021. Disponível em https://www.un.org/.

    RITCHIE, H.; ROSER, M. (2020). CO₂ and Greenhouse Gas Emissions. Publicado online em OurWorldInData.org. Acesso em 16 de julho de 2021. Disponível em: https://ourworldindata.org/.

    Foto de Ralph Hutter em Unsplash.

  • Estimando o Potencial Fotovoltaico Brasileiro

    Estimando o Potencial Fotovoltaico Brasileiro

    Estimar o potencial fotovoltaico requer conhecimento dos fatores necessários para a geração de eletricidade a partir da luz solar. O fator mais importante é a irradiação solar disponível, ou seja, a quantidade de energia incidente e acumulada em certa área e em dado intervalo de tempo. Outro fator importante é a área disponível para a instalação de módulos fotovoltaicos.

    As reações de fusão termonuclear de átomos de Hidrogênio formam átomos de Hélio no interior do Sol e liberam 3,85 × 1026 Joules de energia por segundo ou 3,85 × 1014 TW (1 Terawatt [TW] = 1 × 1012 W) (SMIL, 2002). Deste fluxo imenso, uma fração infinitamente pequena é interceptada pela Terra que, em um ano inteiro, recebe cerca de 1,52 × 109 TWh de irradiação solar; quantidade superior a qualquer outro recurso natural terrestre disponível. Como o Sol continuará a irradiar energia por bilhões de anos, a energia solar é considerada inesgotável.

    Ainda que a luz solar que incide na superfície terrestre seja, em média, a metade do fluxo de energia no topo da atmosfera e, a tecnologia fotovoltaica atual consiga converter aproximadamente 20% da luz solar em eletricidade, cerca de 1,52 × 108 TWh é o potencial teórico global para geração fotovoltaica. Em 2018, o consumo mundial anual de eletricidade foi de quase 25.000 TWh (IRENA, 2021), 6.000 vezes menor (ou 0,0165%) do que o potencial teórico. Portanto, 86 minutos de Sol são suficientes, teoricamente, para suprir todo o consumo anual de eletricidade da humanidade.

    Entretanto, tecnicamente, o potencial de conversão fotovoltaica é bem menor. Áreas imensas de superfície marítima ou protegidas ambientalmente, por exemplo, não podem ser utilizadas para instalação de sistemas fotovoltaicos. Em geral, áreas para instalação dependem da presença de redes de transmissão e distribuição elétrica. Em 2004, o potencial técnico global para instalação de sistemas fotovoltaicos on-grid (conectados à rede elétrica) foi avaliado em cerca de 370.000 TWh (HOOGWIJK, 2004), quase 15 vezes maior do que o consumo mundial. Neste caso, são necessários aproximadamente três semanas e meia de Sol para suprir todo o consumo anual.

    Contudo, o potencial técnico difere em cada país de acordo com a irradiação solar disponível (variável com a latitude), as condições meteorológicas locais e a área disponível para instalação. No Brasil, país com grande extensão territorial, as latitudes variam de + 5° 16’ (norte) na Nascente do Rio Ailã, no estado de Roraima, a – 33° 45’ (sul) no Arroio Chuí, no estado do Rio Grande do Sul (IBGE, 2021). Por isso, o rendimento energético anual de sistemas fotovoltaicos também varia bastante desde 1.100 a 1.800 kWh/kWp (PEREIRA et al., 2017). Os dados de rendimento constam na segunda edição do Atlas Brasileiro de Energia Solar e consideram tanto o desempenho de sistemas fotovoltaicos de grande porte para geração centralizada (GC) quanto o de sistemas de pequeno porte instalados para geração distribuída (GD).

    A disponibilidade de área é um fator importante para se estimar o potencial técnico fotovoltaico. De acordo com KORFIATI et al. (2016) o potencial técnico brasileiro para sistemas fotovoltaicos de pequeno porte instalados em telhados (fundamentalmente micro GD) é de 214,27 TWh por ano. O resultado corresponde a 124,4% da eletricidade consumida em residências brasileiras de acordo com a projeção do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2030) para 2025.

    Considerando-se a mini GD (usinas de até 5 MW) em locais apropriados, a geração fotovoltaica anual poderia produzir uma parcela significativa do consumo total de eletricidade no Brasil, previstos em 640 TWh para 2025. Um outro cálculo mais simples prevê crescimento no consumo total brasileiro de 216 TWh nos próximos anos (de 546 TWh em 2019 para 762 TWh em 2030). Tal crescimento pode ser parcialmente coberto pela micro e minigeração fotovoltaica se sua adoção puder ser acelerada.

    O potencial estimado da geração fotovoltaica brasileira já é suficiente para suprir parcela significativa do consumo de eletricidade no País. Com o avanço da tecnologia e queda dos custos de geração, esse potencial pode ser ainda maior e tornar a GD fotovoltaica uma das fontes mais expressivas nos próximos anos.

    Referências

    HOOGWIJK, M. M. On the Global and Regional Potential of Renewable Energy Sources. Universidade de Utrecht, Holanda, 2004.

    IBGE. Brasil em Síntese. Acesso em 04 de julho de 2021. Disponível em https://brasilemsintese.ibge.gov.br/.

    IRENA. Electricity. Acesso em 02 de julho de 2021. Disponível em https://www.iea.org/.

    KORFIATI, A. et al. Estimation of the Global Solar Energy Potential and Photovoltaic Cost with the use of Open Data. International Journal of Sustainable Energy Planning and Management, Vol. 09, pp. 17-30, 2016.

    MME/EPE. Plano Decenal de Expansão de Energia 2030. 2021.

    PEREIRA, E. B.; MARTINS, F. R.; GONÇALVES, A. R.; COSTA, R. S.; LIMA, F. L.; RÜTHER, R.; ABREU, S. L.; TIEPOLO, G. M.; PEREIRA, S. V.; SOUZA, J. G. Atlas brasileiro de energia solar. 2. ed. São José dos Campos: INPE, 2017. 80 p. Disponível em: http://doi.org/.

    SMIL, V. The Earth´s Biosphere – Evolution, Dynamics, and Change. MIT Press, Cambridge Massachusetts. Londres, 2002.

    Foto de capa: Atlas Brasileiro de Energia Solar do CPTEC/INPE

  • Energias renováveis, ESG e o Brasil no Acordo de Paris

    Energias renováveis, ESG e o Brasil no Acordo de Paris

    Com a retomada da importância do Acordo de Paris no cenário global, muitas empresas já estão discutindo a melhor forma de atingir o equilíbrio das suas emissões de gases efeitos estufa (GEE) e seguir à risca os preceitos do ESG.

    A sigla – do inglês, environmental, social and governance -, apareceu pela primeira vez em 2004, em uma publicação do Pacto Global ONU, feita em parceria com o Banco Mundial. O texto fazia parte de uma provocação do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, feita para 50 presidentes de grandes instituições financeiras, sobre como incluir ações do tripé de sustentabilidade na avaliação financeira das empresas.

    O mercado acatou a recomendação da ONU. Mas o anúncio da BlackRock – a maior gestora de recursos do mundo, com mais de US$ 6 trilhões em carteira -, sobre a decisão de incluir as métricas ESG em todas as suas análises de riscos a partir de 2020, tornou a presença da sigla obrigatória em empresas que querem manter sua trajetória de crescimento.

    Como o Brasil é um dos países signatários do Acordo de Paris, e assumiu a meta de reduzir em 37% suas emissões de GEE até 2025*, a preocupação do mercado em avaliar e adotar as práticas ESG é considerando um caminho natural para o cumprimento desse acordo.

    “É uma meta ambiciosa e fica ainda mais desafiadora considerando que até 2030 a meta brasileira é de redução de 43% da emissão soberana de GEE”, afirma Emerson Kapaz, diretor de relações institucionais da GDSolar. “Além de as empresas considerarem a adoção das melhores práticas de ESG, sabemos que a substituição da matriz energética por fontes mais sustentáveis, como a eólica e a solar, são excelentes estratégias para que as empresas brasileiras contribuam para que o País cumpra esse compromisso”.

    A GDSolar e seus parceiros fazem parte desse movimento. No último ano contribuímos com o desenvolvimento social, com o resultado dos nossos parceiros e evitamos que 36.000 toneladas de CO² fossem lançadas na atmosfera do planeta*.

    *Comparada com a matriz energética brasileira, as usinas solares instaladas no País emitem cerca de 80% menos GEE por kW/h produzido.

  • GDSolar avança no Mercado Livre, com projetos para Autoprodução

    GDSolar avança no Mercado Livre, com projetos para Autoprodução

    Por Luciana Collet – AE ENERGIA

    São Paulo, 22/01/2021 – Criada há cinco anos com estratégia inicialmente focada em desenvolver projetos de geração distribuída, a GDSolar dá um novo passo em 2021 e passa a desenvolver projetos um pouco maiores, de autoprodução, para clientes no mercado livre.

    O primeiro contrato desse tipo foi acertado com a Sky, viabilizando uma usina de 7 MW no interior de São Paulo, mas o plano da empresa é avançar nessa frente, com clientes que não se encaixam no modelo já consolidado de geração distribuída, mas também não têm demanda tão grande como os contratos de autoprodução que se observam tradicionalmente no mercado livre, que a empresa classifica como “middle market”.

    “A demanda que a gente imagina é crescente, porque o mercado está em ebulição”, afirmou o diretor-presidente da GDSolar, Alexandre Gomes, ao Broadcast Energia. “Quando você é um grande consumidor de energia, tem muitas alternativas, quando é um consumidor importante como a Sky, mas não tem tanto volume energético, as alternativas não são tantas, mas é aí que a gente se posiciona”, completou.

    Segundo Gomes, já existem tratativas comerciais avançadas para contratos semelhantes a serem anunciadas em breve. “Temos um pipeline grande”, comentou. De acordo com ele, a expectativa é de que nos próximos dois anos a companhia alcance 200 MW em usinas nesse modelo, com projetos com capacidade de até 30 MW.

    A GDSolar sempre atuou com usinas dedicadas a clientes, principalmente empresas de telecomunicações e de varejo, realizando o investimento na construção dos projetos e repassando os empreendimentos na forma de arrendamento, com a transferência da posse para o cliente. Mas até agora, os projetos desenvolvidos envolviam a adesão do cliente ao sistema de compensação estabelecido por meio da resolução normativa Aneel nº 482, que regulamenta a geração distribuída.

    Por este modelo, a produção gerada na usina é utilizada em uma ou mais unidades consumidoras do cliente, instaladas na mesma área de concessão. Eventuais sobras de energia se transformam em créditos que podem abater o consumo de meses subsequentes. Mas a empresa vem enxergando novas oportunidades, adaptando o modelo para clientes que não se encaixam nos parâmetros estabelecidos pela resolução 482.

    No caso da Sky, um dos fatores determinantes para adotar o modelo de autoprodução no mercado livre, em vez de um sistema de geração distribuída pela resolução 482, está na classe tarifária atendida, que é a “A4”. Neste caso, explica Gomes, a viabilidade financeira é melhor no ambiente de contratação livre.

    Mudanças na regulamentação

    O segmento de geração distribuída passa hoje por um momento de incerteza, tendo em vista a discussão relacionada a uma revisão da resolução 482 e também à expectativa de andamento de um projeto de lei que garanta maior segurança jurídica para os investimentos. A depender do resultado final dessas discussões, alguns modelos, como o de geração remota proposto pela GDSolar até agora, podem se tornar menos viáveis.

    Mas Gomes garantiu que a discussão não interferiu no plano atual de avançar para a viabilização de projetos não atrelados à resolução. “O planejamento estratégico nosso sempre foi, desde o começo, iniciar por 482, que era a oportunidade mais premente que enxergávamos, mas a empresa foi concebida para mercado livre, nem se falava em mudança de resolução”, disse.

    “Nossa visão, quanto concebemos a empresa, é que uma das alternativas para o setor elétrico brasileiro é fomentar a geração de energia de forma distribuída, não importa se estamos falando de 200 MW, de 100 MW, de 50 MW, de 30 MW, de 10 MW ou de 7 MW. E percebemos que esse modelo tem avançado no Brasil com a fonte solar, porque não tem nenhuma outra fonte com a capilaridade da solar”, completou.

    No que diz respeito às discussões em torno da regulamentação da geração distribuída, Gomes disse acreditar que o setor e o regulador começaram a convergir para um equilíbrio. “Talvez os projetos não tenham mais o retorno que se tinha dois anos atrás, mas a realidade vai mudando, você vai dando escala e a gente vai se adaptando, e no fim do dia o cliente final sai beneficiado”, disse. “Isso que interessa, deveria ser o interesse comum de todos.”

    O presidente da GDSolar defendeu, no entanto, celeridade na definição das novas regras. “O pior cenário é não ter cenário definido, porque isso causa uma aceleração no processo desnecessária, as empresas começam a se movimentar para fazer um projeto agora, antes que mude, e isso não é bom, gera uma espécie de ‘corrida do ouro’ que não é boa para ninguém; e tendo cenário estabelecido é questão de ajustar expectativa de investimento.”

    Expansão

    Além dos planos de expansão no mercado livre, a GDSolar segue buscando crescer com projetos de geração distribuída. Atualmente, a empresa conta com um portfólio de 56 usinas em geração distribuída pela resolução 482, espalhadas por 14 estados, sendo 19 operacionais e 37 em construção, com plano de consolidar todas ainda no primeiro semestre deste ano.

    Segundo Gomes, a expectativa para 2021 é acrescentar 100 MW, equivalente a 20 novas usinas, em empreendimentos de geração distribuída no modelo 482. “São usinas que já estão no nosso pipeline bem adiantado”, comentou.

    A GDSolar também se estrutura em outras frentes do setor elétrico, como de comercialização, com planos para iniciar as atividades de uma comercializadora varejista, com foco em energia solar. Adicionalmente, a empresa possui um braço para desenvolvimento de infraestrutura para recarga de veículos elétricos, buscando desenvolver projetos para instalação de carregadores, atrelados ao fornecimento de energia solar.

    Contato: luciana.collet@estadao.comenergia@estadao.com